Sou da opinião que um dos melhores exercícios que podemos fazer é olharmo-nos no espelho.
Devemos olhar-nos literalmente no espelho, ver a nossa imagem reflectida duma forma realista. Olhar os nossos pontos de vantagem e ver os defeitos da nossa anatomia.
Reconhecer os cabelos brancos, se os tivermos, e ver em cada fio despigmentado apenas mais uma pérola de sabedoria. Analisar as rugas, se elas já lá estiverem, e saber que não passam de marcas de expressão, por termos rido muito, chorado copiosamente, enrugado os olhos, revirado os cantos da boca em alegria ou tristeza. Ver as marcas de nascença, e as cicatrizes obtidas ao longo da vida, e lembrar o motivo da sua existência. Nota.. se tens estrias na barriga, não são bonitas de se ver, mas se foram causadas por uma gravidez e és abençoada por um filho que amas, a sua feiura é relativamente pequena.
Vê também o que tens de bonito, porque tens ! O brilho do olhar não se compra, e as covinhas da tua face quando sorris, não há cirurgião plástico que as consiga recriar. E se o teu rabo já começou a viajar para sul, pensa que ainda tens um bom par de pernas. Ou podes ser homem e ter uma barriguita avantajada, mas ter uns lindos olhos verdes, ou (sorte das sortes! ) ter uma farta cabeleira.
Seja como for, analisa-te bem, com olhar crítico, mas recorda-te que as críticas negativas só são úteis se servirem para que tentes melhorar o que for possível melhorar. Não faças críticas negativas a ti mesmo, só por fazer, porque são inúteis e só te vão deprimir.
Agora, faz outro exercício bem mais importante..olha-te ao espelho, no sentido figurado. Olha-te bem para veres bem o que és..
Quando te olhas por dentro, gostas ? Agradas-te como pessoa?
Não creio ser a única a pensar que ninguém é exactamente como gostaria de ser. Qualquer um de nós mudava alguma coisa na nossa personalidade, na nossa maneira de encarar a vida, mas ninguém é perfeito. A bem dizer, seria muito chato co-habitar com alguém sem defeitos, não achas?
Mas vamos voltar ao que realmente me interessa… És, ou tentas ser, o tipo de pessoa que gostarias de ter como amigo, companheiro, colega ? Pensa bem… sê honesto. Quando pousas a cabeça na almofada, naqueles minutos entre o deitar e o adormecer em que passas revista aos acontecimentos do dia, tens consciência que não pisaste em quem não devias, nem foste menos digno nos teus actos?
Cada um de nós tem o seu pedaço de mundo na mão, pedaço esse que é o nosso espelho e vai devolver-nos a própria imagem. Cabe-te escolher que reflexo queres ver, mas não tentes falsear o resultado, pois mais que enganares os outros, estarás a enganar-te a ti mesmo.
Longe de mim sequer imaginar que sou um anjo – de facto tenho um feitiozinho chato de aturar -, mas, com o passar dos anos, se aprendi alguma coisa foi que não lucramos nada em ser má rés. Viver e deixar viver é bom, desde que ao adoptares esse lema não te desligues do teu lado humano e humanitário. É que não basta deixar os outros em paz, ou dar uma esmola a um pobre. Os gestos de humanidade valem muito mais. Não te custa nada afagar quem te rodeia, dar um sorriso é grátis, e ajudar uma velhinha a atravessar a rua só te vai fazer sentir melhor, e não precisas de ser escuteiro !
Abraham Lincoln disse e eu subscrevo: “Se faço o bem, sinto-me bem. Se faço o mal, sinto-me mal. É esta a minha religião”.
Alguns amigos me dizem que eu transmito serenidade, mas eu não sou serena, e quem vive comigo sabe bem como mudo de humor duma forma absolutamente estúpida. Outros consideram-me ponderada, e contudo eu falo muitas vezes sem pensar, e reajo por impulso muito mais amiúde do que deveria. O que nunca ninguém poderá dizer de mim é que sou maldosa...ou que alguma vez magoei alguém de propósito. Impossível, acho que nasci sem o gene da ruindade.
Por isso, quando me olho ao espelho e vejo que estou a ficar velha e essas tretas todas, sou bem capaz de sorrir para mim e dizer: Cada dia gosto mais de ti, és mesmo o tipo de pessoa que eu gostaria de ter como amiga.
Beijos para quem me lê.