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. Enfardar
. Bacalhau escondido à minh...
O cabaneiro é um termo usado na minha terra para designar alguém que é uma mistura de cusco, alcoviteiro, chato e maldizente.
Posto isto, anotem que uso o termo na masculino, porque também há as cabaneiras, mas os cabaneiros batem-nas aos pontos.
O cabaneiro é aquele tipo que é tão cheirão, mas tão cheirão que anda a ter conta na vida alheia mais do que tem conta na sua.. e eu sei dum caso verídico que vos vou contar e que bem ilustram isso. Portanto, perdoem-me o cabaneiredo, mas não resisto..
Numa aldeia aqui das redondezas começou a constar-se que fulana andava a pôr os cornos ao marido. Este, coitado, conforme é mais ou menos usual, de nada sabia. Mas os cabaneiros sabiam (eles sabem tudo). Ora, vai daí, três cabaneiros particularmente afincados na tarefa de vasculhar a vida alheia, dedicaram-se de corpo e alma a seguir todos os passos da dama.
Acontece que o marido traído trabalhava o turno da noite, o que deixava à infiel esposa o serão livre para estar com o amante. Aquilo era um autentico festim para os cuscos.. Cada passo, cada encontro, cada prevaricação era seguida atentamente. Novidades, movimentações e detalhes eram trocados entre os três com grande entusiasmo e alegria.
Acontece é que parte do prazer que um cabaneiro obtém da sua actividade reside na divulgação da informação. Ou seja, não lhes basta andarem a meter o nariz onde não são chamados: eles adoram espalhar a boa nova, partilhar com o mundo..
E adoram gozar. Deliram. Sempre que encontravam o marido traído deliciavam-se a mandar umas piadas aparentemente inofensivas, e trocavam risinhos maliciosos entre si. E trataram de se encarregar que a aldeia inteira soubesse dos acontecimentos.
Enquanto os três cuscos recolhiam dados e divulgavam, uma alminha caridosa e discreta tratou de pôr o marido enchifrado ao corrente da situação. Sendo um homem educado, ele não se descoseu..fingiu que de nada sabia, tratou de pôr alguns assuntos de ordem económica em ordem (vulgo, despejou a conta bancária conjunta para que a mulher não lhe pudesse desonrar também a carteira) ..e dedicou-se ele próprio a algum cabaneiredo... e descobriu uma coisa muito interessante!
Num domingo de manhã estavam os homens da terrinha reunidos no café, a fazer as coisas que os homens costumam fazer nos cafés de aldeia enquanto a mulher faz o almoço (jogar à sueca, ao dominó e cabaneirar), quando o marido traído entrou. Fez-se silencio, todos o olharam.. uns com um misto de piedade no olhar, outros com um sorriso maldoso a bailar nos cantos da boca. O homem não perdeu a calma...
- Então amigos..calaram-se ? Falavam de quê ? ...De mim? Da minha mulher?
O mais atrevido dos 3 cabaneiros não resistiu.
- Por acaso sim! Olha pá, toda a gente sabe que a tua mulher te anda a pôr os cornos ! Ainda ontem à noite a vimos no carro com o moina. E foram para a casa dele! Não creio que fossem trocar receitas de culinária.
Houve uma explosão generalizada de risota. Mas o homem continuou calmo..
E foi com imensa satisfação que informou o cabaneiro que enquanto este andava ocupado a vigiar a traidora..a mulher dele aproveitava para meter o vizinho lá em casa..E certamente não seria para trocarem receitas de culinária.
Moral da história: Todos temos telhados de vidro, convém não atirar pedras.
Outra moral da história: Antes de veres se as unhas do teu vizinho tem lixo, verifica se as tuas estão bem limpinhas.
Moral mais importante da história: Vive e deixa viver.